Não tinha e-mail, nem internet, nem celular. Os cinco anos que passei na editoria de polícia do jornal Notícias Populares, na segunda metade da década de 1990, foram tão intensos que os 17 anos seguintes editando revistas customizadas trimestrais na Trip Editora pareceram um passeio.
No NP, percorri a periferia de São Paulo, sempre com o guia no colo, ajudando o motorista a encontrar o local da ocorrência – ainda lembro de cabeça alguns números de delegacia (47º Capão Redondo; 92º Parque Santo Antonio; 51º Itaim Paulista; 25º Parelheiros; 101º Jardim das Imbuias e por aí vai...). Íamos até os cafundós e voltávamos à Barão de Limeira, 425, a tempo de escrever matérias para fechar às 18h – o curso de datilografia no Senac fez uma baita diferença na destreza sobre as teclas.
Hoje, mal entendo como tinha estômago para cobrir todos os tipos de crime e tragédia que você possa imaginar (tiro, facada, incêndio em favela, enforcado, degolado, rebelião em cadeia, motim na Febem, queda de avião, acidente de carro...), mas o fato é que, na época, não era uma rotina que me fazia chorar ao fim do dia. Pelo contrário.
Os gênios que faziam a primeira página do jornal mais criativo e sensacional de todos os tempos eram Paulo Cesar Martin e José Vicente Bernardo – o mundo girou e há pouco mais de dois anos voltei a batucar teclados sob a batuta do maestro Zé Vicente, agora na revista Forbes, onde ele é o editor-chefe.
E o que existe em comum nessas décadas de experiência profissional, que começou durante o curso de jornalismo na Cásper Líbero (na Gazeta Esportiva – outro dia escrevo a respeito dos meses de setorista de surfe!), e que mesclam títulos tão discrepantes como o sanguinolento NP e a luxuosa Daslu (a primeira revista customizada que fiz na Trip)? Viagens.
Sempre inventei matérias em lugares que queria conhecer – por isso, nem consigo chamá-las de “viagens a trabalho”. O fascínio por um lugar (por diferentes motivos) determina a minha vontade de estar ali, seja a serviço, sozinho ou com a família. Sou eu que estou ali. Logo, as viagens são sempre muito pessoais, independente de quem pague a conta.
Viajo com regularidade e escrevo a respeito há quase 30 anos. No Brasil (meu país favorito), ainda não estive em Rondônia, no Acre, no Amapá e na Paraíba – em Minas Gerais tinha uma “dívida” grande com Inhotim, mas lá estive semana passada, em minha primeira jornada na pandemia, exatas duas semanas após a segunda dose de AstraZeneca.
No exterior, esse hábito de contar países, acho que não diz muita coisa... Mas, pra não te deixar sem resposta, devo ter colocado os pés em cerca de 50 países – digo que esse número não significa muito, pois ele não reflete a real experiência de um viajante (no meu caso, por exemplo, pegando só dois países – Chile e Rússia – são 14 viagens; nove no primeiro e cinco no segundo...). E qual o meio de transporte que mais gosto de perambular por aí? Trem. Hora dessas também devemos falar a respeito por aqui.
Boa viagem a todos nós.